A expressão “batismo no/com Espírito Santo” aparece na Bíblia seis vezes: Mateus 3.11, Marcos 1.8, Lucas 3.16, João 1.33, Atos 1.5 e Atos 11.16. Em todos esses casos, a expressão aparece sempre com um significado carismático, isto é, de revestimento de poder, como fica ainda mais explícito a partir das passagens correlatas que se referem descritivamente à experiência aludida naquelas passagens (Lc 24.49; At 1.8; At 2.1ss). O termo grego baptizo (“batismo”), que significa “imersão”, é usado figurativamente para descrever a imersão plena do crente nessa dimensão carismática, na “virtude” (dunamis, “poder”, At 1.8) do Espírito. A preposição grega em – que pode significar “em” ou “por” dependendo do contexto – é usada nessas seis porções bíblicas claramente com o sentido de “em”, uma vez que Jesus nitidamente é apontado nelas como sendo o efetuador desse batismo e o Espírito indicado como sendo o elemento no qual essa imersão é efetuada.
Além dessas seis passagens, há uma outra, em 1 Coríntios 12.13, que pode causar confusão às vezes para alguns leitores da Bíblia, pois menciona um “batismo em um Espírito” ou, dependendo das versões, um “batismo por um Espírito”. Essa passagem paulina não se refere à mesma coisa que as seis passagens supracitadas mencionam. O uso mais apropriado de en em 1 Coríntios 12.13 é o de “por”, como atesta o testemunho majoritário dos especialistas. Uma olhada nas diversas versões da Bíblia em vários idiomas em circulação na atualidade demonstra a preferência maior dos acadêmicos pelo significado “por” em vez de “em” nessa passagem, o que torna o batismo ali mencionado diferente do tratado nas passagens de Mateus 3.11, Marcos 1.8, Lucas 3.16, João 1.33, Atos 1.5 e Atos 11.16.
Em outras palavras, 1 Coríntios 12.13 faz referência ao Espírito Santo batizando-nos no Corpo de Cristo, à experiência da conversão, ao sermos enxertados pelo Espírito em Cristo (“Fostes batizados em Cristo”, Gl 3.27) e não a de sermos batizados no Espírito por Jesus, que é a experiência clara nas outras seis passagens. Lembrando que Cristo não pode ser o batizador e o elemento batismal ao mesmo tempo. Ser batizado no Espírito por Cristo não pode ser o mesmo que ser batizado em Cristo pelo Espírito.
Compreendido isso, a melhor e mais sintética definição do batismo no Espírito Santo à luz da Bíblia é a de um batismo de/no poder, um revestimento de poder.
É importante frisar que embora o crente que não é batizado no Espírito Santo possa, sim, obviamente, experimentar graus de poder em sua vida cristã, isso não deve ser confundido com a experiência do batismo no Espírito propriamente dita, porque esta – frisamos – é uma imersão plena (baptizo) no poder do Espírito. O termo “batismo” é usado figurativamente para descrever imersão. Por batismo no Espírito Santo, portanto, entendemos a imersão plena do crente no profetismo da Nova Aliança, como o próprio texto bíblico claramente deixa a entender – algo disponível a todos os crentes de todas as idades, sexos e classes sociais (At 2.16-18). Essa imersão plena é evidenciada externamente pelo falar em línguas (At 2.4; 10.44-46; 19.6).
Esse revestimento de poder é chamado também por Jesus de “Promessa do Pai” (Lc 24.49). Como o próprio nome denota, trata-se de algo prometido pelo Pai a Seus filhos – ou seja, se você é filho de Deus, ela alcança você. Aliás, segundo as próprias palavras de Cristo em Lucas 11.9-13, essa bênção está disponível a todos os crentes que com fé e persistência a buscarem (atente para os grifos): “E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á. E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”.
Essa verdade, lembremos, foi reforçada também pelos discípulos de Jesus: “Porque a promessa [Jl 2.28-30; At 2.16-18] vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39).
O propósito do batismo no Espírito é conceder poder para servir, para testemunhar, como declarado pelo próprio Batizador: “Ser-me-eis testemunhas” (At1.8). Mas, no que consiste exatamente esse poder para tal? O que significa “testemunhar com poder” ou esse “poder para servir”? No texto bíblico, encontramos o próprio Batizador detalhando no que consiste isso.
Em primeiro lugar, ao falar da vinda do Espírito, Jesus disse aos seus discípulos que o Outro Consolador inspiraria suas falas, especialmente quando eles se encontrassem encurralados, sob perseguição, sem saber o que responder (Lc 12.11,12), promessa repetida mais à frente ao falar que lhes daria “boca [palavra] e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer” (Lc 21.15). Isso realmente ocorre: Pedro e Estevão, cheios do Espírito Santo, responderam a seus algozes de tal forma que eles não puderam contradizê-los ou resisti-los (At 4.8-14; 6.3,9,10). O poder do Espírito também fez os discípulos anunciarem “com ousadia a Palavra de Deus” (At 4.31). Então, testemunhar com poder envolve intrepidez, falar com autoridade e falar sob a inspiração do Espírito, e não apenas usando mera retórica humana.
Em segundo lugar, ao afirmar que Seus discípulos receberiam “poder” (Lc 24.49; At 1.8), Jesus estava falando não apenas de fala poderosa, mas também e principalmente de ações poderosas. Poder implica sobretudo ações poderosas, o que vemos em profusão no ministério de Jesus e, após o derramamento do Espírito, também em abundância na atividade evangelística de Seus seguidores (Mc 16.20; At 2.43). Esse poder não está relacionado apenas ao discurso inspirado, mas a ações de poder, ou seja, a sinais, a carismas divinos, à manifestação dos dons do Espírito.
Finalmente, é importante enfatizar que essa Promessa é para hoje, estando disponível a todos os crentes (Mc 16.17,18; At 2.39). Ou seja, é para você também. Logo, se ainda não ao recebeu, busque e receba o Batismo no Espírito Santo!
Silas Daniel é pastor, editor-chefe de Jornalismo da CPAD e autor dos livros O Batismo no Espírito e as Línguas como sua Evidência, Arminianismo – A Mecânica da Salvação e A Sedução das Novas Teologias, todos títulos da CPAD.
Fonte: Artigo extraído Jornal Mensageiro da Paz, Ano 91 – Número 1628 – Janeiro de 2021